Educação Especial de 11/03/2015

 Educação Especial: Leitura Reflexiva SURDEZ – Visão médico – patológica x visão sociocultural, impactando na educação dos surdos A aceitação do estranho, do diferente, do deficiente sempre foi um problema para o outro, para a sociedade ao longo da história das civilizações. 

No caso dos indivíduos surdos, durante a Antiguidade e até o início da Idade Média, pensava-se que eles não eram educáveis.

 Eles eram rotulados como imbecis, “idiotas”, vistos como incapacitados para aprender. 

Foram subjulgados e obrigados a comunicarem-se por meio de uma língua que lhes é estranha, a língua oral. A partir daí, temos uma longa (e triste) história sobre os surdos, que já foi exaustivamente relatada por brilhantes autores como Carlos M. Sânchez, Oliver W. Sacks, dentre outros. 

Mais recentemente e até os nossos dias, o debate sobre o indivíduo surdo apresenta duas posições antagônicas: a visão médico patológica (ou médico-organicista) e a pssicossocioantropológica (também conhecida como visão sociocultural). 

Vejamos, resumidamente, a posição de cada uma dessas visões, com o consequente impacto na área da educação dos surdos. A VISÃO MÉDICO-PATOLÓGICA (OU ORGANICISTA) DA SURDEZ 

Desde o início de sua história, a educação dos surdos sujeitou-se à orientação de um profissional da área médica (o médico Jerônimo Cardan). 
Tal influência médica foi se consolidando, estando presente, inclusive, no Instituto de Surdos de Paris, primeira escola especial de surdos – fundada pelo abade francês Charles Michel de L’Epèe (1712 – 1789) – cuja administração posteriormente ficaria sob responsabilidade do médico Jean Itard. 
Talvez aqui tenha se dado o início do que viria a se consolidar como uma visão médico-patológica da surdez, predominante por longos anos no campo da educação de surdos. Comungam dessa visão a corrente de autores que focaliza a surdez apenas no âmbito clínico-patológico ou médico-organicista. Nela, o surdo é visto como um deficiente que precisa da reabilitação para alcançar uma condição fisiológica semelhante à dos ouvintes.

 Tal visão prioriza o problema biológico da falta de audição e da dificuldade (ou até ausência) da fala oral. Os defensores de visão, geralmente, estão interessados nos aspectos neuro-sensoriais sobretudo no tocante à capacidade/incapacidade de audição e fala oral do surdo. 

Desse modo, indicam aos surdos, prioritariamente, o caminho da educação/reeducação (ou reabilitação) da audição/fala oral. Entendem eles que, sem tal reabilitação, dificilmente, esses indivíduos integrariam a sociedade majoritária, que é de ouvintes. 

Assim, nessa corrente, os autores defendem que a “reabilitação” da surdez, o que pode se efetivar por meio de treino fonoarticulatório (terapia que possibilite a fala oral), a leitura labial e pela ampliação do resíduo auditivo. 

Para isso, é imprescindível a utilização de aparelhos de amplificação sonora, próteses auditivas, implantes coclear, dentre outras técnicas/instrumentos modernos na linha das tecnologias assitivas. Um indivíduo que é considerado como tendo suas habilidades dentro do padrão esperado pela medicina é aquele que consegue captar ondas sonoras em várias frequências diferentes passando pelo processo completo, da detecção à decodificação do som. 

O American National Standarts Institute (ANSI – 1989) define uma escala em decibéis (dB). Nessa escala, o db corresponde ao zero audiométrico, e agrega várias frequências comuns em Hertz (Hz). 

A faixa de 0 a aproximadamente 20 a 24 decibéis (ou 26 db) corresponde ao nível natural de audição nos humanos, sendo que limiares de perda acima de 25 decibéis (em algumas frequências, conforme testes com audiogramas de 250, 500, 1.000, 2.000, 3.000, 4.000, 6.000 e 8.000 hz), já pode ser considerada uma deficiência de audição. Também, os níveis da deficiência são classificados de acordo com as diferenças no limiar de detecção em dB. 

Desse modo, geralmente, o indivíduo é classificado como tendo perda leve, moderada, severa e profunda. Nesse sentido, os indivíduos com perda auditiva em níveis leve, moderado e severo são chamados de deficientes auditivos. 

Os com nível profundo são chamados surdos. Luis Behares é uma dos autores que criticam o uso de expressões como deficientes auditivos, por remeter à visão médico-organicista.

 Para ele, principalmente na escolarização do surdo, o grau de perda auditiva indicado pelo diagnóstico médico e/ou paramédico tem sido decisivo no encaminhamento educacional, configurando-se como o mais importante indicador para a previsão do desenvolvimento de linguagem. 

Isso porque, na visão médico-organicista, é imprescindível conhecer os aspectos patológicos e fisiológicos da surdez a fim de que se possa desenvolver um trabalho educativo com esse indivíduo. Tal visão pretende aproximar o surdo o máximo possível do ouvinte, eu é o “modelo-padrão”. 

Assim, resistese a aceitar a diferença desse indivíduo, já que ele destoa da norma socialmente estabelecida. Na visão médico- patológica, os padrões classificatórios não são apenas indícios. São considerados os mais importantes indicadores para a previsão de desenvolvimento da criança surda, tanto em termos linguísticos com educacionais. 

Assim, desprezam-se, ou se coloca em segundo plano, outros fatores que não se refiram ao tipo e grau de perda auditiva.